Uma
breve história da flauta doce
Camaçari/BA
(Novembro/2015)
Por: Joélio Santos
Segundo
relatos de escritos que se tem conhecimento ao longo da literatura da história
da flauta doce, podemos afirmar que o instrumento data desde a pré-história,
sendo um dos instrumentos de sopro que se desenvolveu e evoluiu em grade
proporção, bem como, serviu de modelo para a construção de muitos outros
instrumentos de sopro ao longo da história. Podemos identificar esse
instrumento em muitas civilizações antigas, a exemplo das latinoamericanas,
tendo a sua fabricação nos mais diversos e variados materiais, como: bambus,
argilas, tubos, madeiras, entre outros.
Figura 1: flautas doces
renascentistas
Figura 2: flautas doces
modernas Suzuki de plástico.
A
palavra flauta doce já foi chamada simplesmente de flauta, mas devido à
evolução do instrumento, passou-se a chamar flauta doce, devido à facilidade de
se de produzir som com delicadeza e a pouca potência sonora. Portanto, a flauta
doce era chamada de (flauta, flûte, flöte, flauto), e a flauta transversal era
chamada de (German flute, ou flute d’allemande). No entanto, alguns países
adotaram nomes para a flauta doce que até hoje são conhecidos universalmente,
por alguns outros nomes: (flauto dolce na Itália, flût à bec na França,
blockflöte na Alemanha e recorder na Inglaterra).
Segundo
o Dicionário Grove de Música (1994), a flauta doce teve sua origem como
instrumento artístico provavelmente na Itália, séc. XIV, com o primeiro método
publicado em Veneza – 1535. Na Idade Média, a Igreja só favorecia a música
vocal, as performances instrumentais não possuíam lugar de respeito na
sociedade (HUNT, 1977; PAOLIELLO, 2007). A família das flautas doces modernas
são tanto de plásticos, a exemplo das flautas doces modernas Suzuki, ilustradas
na figura 2, quanto de madeira, a serem ilustradas na figura 3.
Figura 3: família da flauta doce de madeira
Atualmente
existem dois tipos de flautas doces: a barroca e a germânica. A diferencia de
uma para a outra está nos furos 1 e 2 da mão direita, como ilustra a figura 4
abaixo. A diferencia de um sistema para outro se dá pelo uso das letras ‘B’
para barroca e ‘G’ para germânica, localizadas abaixo do furo ‘P’, atrás do
instrumento. Vale ressaltar também que a flauta germânica foi desenvolvida para
facilitar a aprendizagem da nota fá, mas que, infelizmente, está nota é
desafinada quando tocada juntamente com outros instrumentos. No entanto, para
se tocar somente com flautas germânicas, a desafinação é quase imperceptível.
Figura 4: Germânica (furo 1 – grande e 2 – pequeno)
e Barroca (furo 1 – pequeno e 2 – grande).
Quanto
à classificação da família da flauta doce, podemos relatar da seguinte forma: flauta doce sopranino (FÁ4 a SOL6); flauta doce soprano (DÓ4 a RÉ6) – é a flauta mais tocada e
utilizada na educação musical; flauta doce contralto (afinada uma oitava abaixo
da flauta sopranino); flauta doce tenor (afinada uma oitava abaixo da flauta soprano);
flauta doce baixo (afinada uma oitava abaixo da flauta contralto)
e flauta doce grande-baixo ou contra baixo (afinada uma oitava abaixo da tenor).
Ver figura 5 que ilustra a classificação das extensões da família da
flauta-doce.
Figura 5: classificação da extensão da família da
flauta doce
Com o foco nos estudo da flauta doce soprano,
apresentaremos ao final deste artigo, na figura 6, as duas oitavas das notas
(naturais), referente à digitação do instrumento, e na figura 7, teremos a
digitação das notas alteradas, tanto sustenidos (#), quanto bemóis (b). Vale
enfatizar que esta extensão permite executar grande parte do repertório da
literatura na flauta doce barroca.
O artigo se ateve a um breve relato da história da flauta
doce, e, contudo, relataremos ainda, acerca do método que contribuiu bastante
para que o estudo da flauta doce se aperfeiçoasse e seus interpretes tivesse
adquirido o virtuosismo que atingiram os palcos do mundo. Hoteterre foi o autor do método que
serviria de modelo para muitos outros: Principes de la Flûte traversière ou
Flûte d’Allemande, de La Flûte à bec ou Flûte douce, et du Haubois, Paris –
1707 (PAOLIELLO, 2007).
Tivemos
vários interpretes da flauta doce ao longo da história, mas o Jean Baptiste
Loeillet of Ghent (1680-1730), foi um dos que se destacou significativamente,
instalando-se em Londres como flautista doce, e como ele além de interprete,
também era compositor, proporcionou um avanço muito grande à flauta doce na Inglaterra,
que logo se propagaria na Europa e consequentemente, mundo a fora.
Vamos
listar para concluir este breve comentário acerca da história da música, uma
série de compositores e obras, referente ao repertório da flauta doce ao longo
da história. Esta lista servirá de incentivo à apreciação musical desse repertorio,
bem como uma ferramenta que proporcionará ao estudante da flauta doce um
aprofundamento mais atento aos estudos do instrumento, pois grande parte desse
repertório encontrasse nos canais do YOUTUBE e outros meios de difusão da
música referente à flauta doce.
Dentre
vários compositores na história da música universal para flauta doce podemos
citar: Robert Valentine (1680-1735), compondo uma série de sonatas e trio
sonatas para flauta doce e contínuo; Johann Christian Schickhardt (1682-1762), compondo
sonatas para flauta doce e contínuo; Schickhardt, compondo uma série de 24
sonatas nas 12 tonalidades maiores e menores para flauta doce e baixo contínuo
e uma série de sonatas para quatro contraltos e contínuo. Robert Woodcock (1690 -1734), compondo três concertos
para duas flautas doces; John Baston (1711-1733), compondo peças para 6 flautas
e flauta soprano; William Babell (1690-1723), compondo para flauta doce solo e
para duas flautas doces; Charles Dieupart (1700-1740); compondo seis suítes
para flauta doce.
Vale
ressaltar que foram grandes as contribuições de compositores alemães, ao
repertório da flauta doce. Como já foi mencionado no artigo, pretendemos aqui,
elaborar um breve comentário de forma sucinta, acerca da história da flauta
doce, portanto, neste parágrafo, nos ateremos a uma obra por compositor, mas
enfatizando que às contribuições composicionais destes, foram grandiosas. Dentre
eles podemos destacar: Johann Christoph Pez (1664-1716), compondo Concerto
Pastorale para 2 flautas contralto; Johann Christoph Pepusch (1667-1752), compondo
2 séries de 6 sonatas solo para flauta doce; Johann David Heinichen (1683-1729),
compondo um concerto para 4 flautas contralto; Johann Christoph Graupner
(1683-1760), compondo um concerto para flauta doce e cordas; Georg Phillip
Telemann (1681-1767), um dos compositores que mais contribuiu, compondo
"Der getreue Musikmeister" e "Essercizii
Musici; Johann Sebastian Bach (1685-1750), compositor que mais utilizou a
flauta doce em formações orquestrais, a exemplo de seus Concertos de
Brandemburgo nº 2 e 4; George Frederich Handel (1685-1759), compondo 12
sonatas; Johann Friedrich Fasch (1688-1758), compondo quarteto para 2 flautas
doces, 1 traverso e contínuo; Johann Joachim Quantz (1697-1773), compositor da
corte em Potsdam além de professor de flauta, escreveu o "Versuch einer
Anweisung die Flûte Traversière zu spielen" em 1752; Francesco Barsanti
(1690-1772), compondo várias sonatas para flauta doce e contínuo; Giovanni
Battista Bononcini (1670-1747), compondo um divertimento de câmara para flauta
doce e contínuo; Giuseppe Sammartini (1695-1750), compondo 12 trio sonatas para
2 flautas contralto e contínuo; Benedetto Marcello (1686-1739), compondo
sonatas para flauta doce e contínuo; Francesco Maria Veracini (1690-1768), compondo
sonatas para flauta doce e contínuo; Alessandro Scarlatti (1659-1725), compondo
uma sonata para 3 flautas contraltos e contínuo e Antonio Vivaldi (1678-1741), compondo
concertos virtuosísticos para flauta doce e orquestra.
A
guisa de conclusão, não esquecendo que a flauta tem contribuído bastante com ensino
de música por meio da musicalização, por ser um instrumento de fácil acesso e
com um baixo custo, mas que desenvolve a percepção musical e ajuda no solfejo e
canto, principalmente fazendo uso de canções folclóricas, é justo mencionar
neste artigo, as contribuições de Jacob Van Eyck, compositor e organista
holandês do séc. XVII, autor de duas publicações, de 1646 e 1654, que fez
bastante uso de temas populares com variações, utilizando melodias inglesas e
do compositor John Dowland, enfatizando a dificuldade progressiva na flauta
doce. Seguindo nesta mesma linha de contribuições com a flauta doce a partir de
canções populares, também não podemos deixar de mencionar a figura de Mario
Mascarenhas, brasileiro, como suas compilações de canções folclóricas, bem como
de temas conhecidos da música erudita e popular em três volumes intitulado de
Minha doce flauta doce, arranjados para duas e três flautas, com acompanhamento
de violão.
Referências bibliográficas:
DOLMESTSCH
online. [s.d.] Disponível em: www.dolmetsch.com/index.html Acesso em
07/11/2015.
FRANK,
Isolde Mohr. Pedrinho toca flauta doce – 1º e 2º vol. São Leopoldo: Sinodal,
2004.
GROVE,
Dicionário de Música-edição concisa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
LANDER,
Nicholas S. A história da flauta doce. 2000. Traduzido por Romero Damião.
Disponível em: www.artemídia.ufcg.edu.br/flauta doce/história.html Acesso em
07/11/2015.
PAOLIELLO,
Noara, O. A Flauta Doce e sua dupla função como instrumento artístico e de
iniciação musical. 2007. Disponível em: Acesso em 08/11/2015.
Digitalização na flauta doce soprano barroca
Figura 6: duas oitavas das notas naturais
Figura 7: duas oitavas das notas alteradas:
sustenidos (#) e bemóis (b)